Tenho pena
Pena daqueles que me olham como coitado, ou incapacitado.
Pois eles não têm idéia do quanto sou privilegiado.
Afinal, pra quê andar? Andar torna todos iguais e essa mesmice me deixa entediado.
Melhor que andar é poder voar.
E eu vôo sempre. Sem pestanejar.
Chegando a destinos que as pernas mais fortes e vigorosas podem sequer almejar.
Para qualquer lugar que exista.
E se não existir, só basta inventar.
Vôo, vivendo mil histórias sem sequer sair do lugar.
Pois pernas todos têm. Mas asas, (sobretudo as que eu tenho). São só minhas. São para poucos. Não são de anjo, embora sejam tão poderosas quanto. Proporcionando a todos similar encanto.
Pois são asas mais belas e raras que há. Tanto que só os especialmente sensíveis são capazes de lhes enxergar.
São invisíveis a olhos comuns.
Talvez seja por isso que não podem ser feridas por um estilingue como as de um pássaro muito menos quebradas como as de um avião.
Muitos têm pena de mim por não andar como eles.
Eu é que tenho pena deles.
Pois não podem, como eu, voar com asas da imaginação.